segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A AUDIÊNCIA QUE EU VI


Álvaro Degas, do Blog do Degas

O Porto é, em si, muito pouco. Mas é melhor que nada. E nada é o que restará a Ilhéus sem ele. Assim fica fácil escolher.

Estive ontem na audiência do Porto Sul. Mais por curiosidade, pois nunca havia comparecido pessoalmente a uma, do que por qualquer outro motivo. Ali conheci e cumprimentei Rui Rocha, de quem tive uma excelente impressão pessoal, e vi de longe a militância de Socorro Mendonça, minha primeira interlocutora a respeito do Complexo Intermodal, por quem mantenho respeito e apreço.
Também encontrei colegas da UESC. Um deles, professor da História que conheci na greve, manifestou-me seu descontentamento com o projeto. Com o Porto, com as empresas, com todos. É que ele é um marxista em tempo integral, enquanto eu sou um marxista de ocasião. Às vezes nem marxista sou, e em outras trucidaria o capitalismo e os capitalistas. Para ele o Porto não deveria ser levado adiante porque é um projeto de interesse Capitalista. Para mim isto não está em discussão. É um projeto Capitalista, e os interesses do Capital são muito claros. E, como sempre, egoístas. Mas não consigo esquecer que os contrários ao projeto também estão a serviço de interesses Capitalistas. Sobre isso falo mais abaixo.
Antes, um outro colega havia ponderado que o projeto que os Governos Federal e Estadual trouxe para Ilhéus não é o ideal. Isto é outra evidência. Principalmente depois que se castrou o Complexo, já que ninguém nem se lembra mais do Aeroporto Internacional, é evidente que o investimento trazido poderia ser melhor do que o Porto. O Porto é, em si, muito pouco. Mas é melhor que nada. E nada é o que restará a Ilhéus sem ele. Assim fica fácil escolher.
A audiência em si teve muita torcida organizada de parte a parte. Camisetas, cartazes, vaias e aplausos, gritos de ordem. Os contrários ficaram, em sua maioria, no centro do plenário, de pé nos corredores entre os assentos. Organizados, ocuparam rápido os locais de melhor visibilidade e fizeram muito barulho para aparecerem na mídia. Porém, inegavelmente a imensa maioria dentro do Centro de Convenções era de favoráveis. E fora também. Segundo alguns, o percentual de aceitação do projeto chega a 92% da população do Sul da Bahia.
A presença da Rede Globo, gerando manchete em nível nacional, pelas competentes laudas de José Raimundo, também não foi nenhuma surpresa. Há relatos de que ele já estivera em contato com diversos opositores do projeto, antecipando as fontes de seu interesse. A Rede Globo é francamente partidária nesta questão, e despreza quaisquer princípios da ética jornalística em suas matérias a respeito do Porto. Como já fizera na época das usinas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, e Belo Monte, no Pará. A História, aliás, revela a emissora por si só. É a mesma Globo que manipulou as eleições em 2006, que conduziu uma reportagem inconfessável e decidiu as eleições em 1989 contra Lula. A Globo que omitiu o famoso comício das Diretas Já. A Globo, apenas. Como sempre, sabotando os interesses do Brasil. As matérias da emissora nos seus jornais nunca dão às opiniões favoráveis ao Porto o mesmo espaço que se dá aos contrários. Sempre encerram as matérias dando a palavra final aos que se opõem ao Porto. E, nesta última (vejam no Blog de Gusmão), a emissora simplesmente falta com a verdade, afirmando que havia “um grupo” de pessoas apoiando o Porto. O “grupo”, que sugere uma pequena fatia da população para quem assiste a matéria, é na verdade a imensa maioria da população do Sul da Bahia. Uma informação incontestável que a emissora omitiu e fez crer em contrário. O fato simples que todos precisam ter em mente, portanto, é que a emissora da família Marinho será um entrave ao processo. Atrapalharão tanto quanto conseguirem, por meios e motivos inconfessáveis. Será assim, simplesmente.
Já os que se opõem ao projeto, ao munir-se das matérias da Globo, estão apenas jogando o jogo. Todos lutam com as armas que tem, e há muito se sabe que não há nenhum bobo nesta disputa, onde os principais interesses são meramente econômicos. E muito, muito poderosos. De um lado uma grande companhia mineradora, os governos estadual e federal, a opinião pública. Do outro, embora não se saiba exatamente quem são, com certeza não há ingênuos. Este não é um jogo para principiantes. Pessoalmente, surpreendi-me ao ser abordado por uma garota bonita que me estendeu um panfleto publicitário contra o Porto. Conversando com ela soube que é natural de Vitória da Conquista, mora em Montes Claros. Mas estava aqui em Ilhéus, e viera unicamente para acompanhar a audiência. Quantas mais havia como ela? Quanto isso custou? O poder econômico municia fartamente os dois lados. Só que em um deles não se conhece exatamente a fonte; apenas se especula.
O Ministério Público se fez presente, e é importante ressaltar que lhes cabe um papel fundamental de fiscalizar e, se for o caso, denunciar qualquer descompromisso legal no andamento do Projeto. Inicialmente eles cobraram que a audiência começasse de fato, já que até então apenas haviam discursos políticos, e mostraram que o respeito às leis ambientais e à Constituição os norteariam. No final, pareceu estranho uma Promotora encerrar dizendo que deseja saber “o que vamos receber” porque ela “já sabe quanto vai nos custar” o Porto. Pode ter dado a algumas pessoas a impressão de que ela já tinha suas opiniões, em parte, previamente formadas. Não deve ser o caso, evidentemente. Isto não seria bom.
Não há muito a relatar da audiência em si, já que todos os discursos foram apelos às torcidas que ali estavam. Governo e Bamin falaram o que se sabia que falariam. Opositores também. Argumentos, factoides, arrazoados. Tudo foi apresentado sem maiores novidades. Um passo foi dado, mas em nada se alterou o posicionamento das peças no tabuleiro.
Apenas se pôde observar mais, aprender mais. A força dos opositores, que contam com o apoio despudorado da maior emissora do País e, segundo o empresário João Cavalcanti, com munição fornecida por empresários de Pernambuco e do Espírito Santo, já derrubou o projeto uma vez. Os sonhos foram reconstruídos em outro lugar, precisamente alguns quilômetros mais ao sul. Todavia, a voracidade dos opositores não se arrefeceu. Tentarão de novo. Podem conseguir.
Só o tempo dirá.

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