terça-feira, 24 de maio de 2011

Mineração de urânio em Caetité/BA: os custos socioambientais da energia nuclear


Zoraide Vilasboas

É preocupante a situação das populações dos municípios de Caetité (46.192 habitantes) e Lagoa Real (13.795 habitantes), localizados a mais de 750 km de Salvador, capital da Bahia, que vivem sob a influência do único complexo mínero-industrial de extração e beneficiamento de urânio em atividade no país. Até hoje não sabem a real proporção e as conseqüências do transbordamento de líquido radioativo de uma bacia de decantação de urânio que, em junho deste ano, encharcou o solo na Unidade de Concentrado de Urânio (URA/Caetité), operada pela Indústrias Nucleares do Brasil (INB). A ocorrência eleva para mais de 10 os acidentes, incidentes (ou “eventos nucleares usuais”, como prefere a INB), registrados em pouco mais de oito anos de funcionamento, aumentando as dúvidas sobre a competência científica e técnica da empresa para lidar com atividades de grande complexidade – extração, beneficiamento e transporte de material atômico – e alto risco para o homem e o meio ambiente.



O fato só foi admitido três meses depois, no dia 11 de setembro, em reunião no Instituto Gestor de Águas da Bahia (INGA), depois que a Associação Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça, Cidadania, organização sócio ambiental que atua na região, acionou o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Como sempre, a INB, convocada pelo Superintendente do IBAMA-BA, não compareceu para tratar da avaliação de pendências do licenciamento ambiental referente às condicionantes da renovação da Licença de Operação (LO) da URA/Caetité. Contudo, a representante do IBAMA-BSB, Sandra Miano, que, costuma minimizar os problemas da INB, afirmou que o auto-monitoramento da empresa e o resultado preliminar da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), responsável pela fiscalização das atividades nucleares e radioativas no Brasil, indicaram uma contaminação abaixo do limite permitido pela legislação.

Dias depois, Sandra Miano, a mesma técnica da Divisão de Licenciamento Ambiental do IBAMA-BSB que, em 2007, assinou o Parecer 91/2006 pela renovação da LO, apesar do descumprimento das condicionantes do próprio IBAMA, inspecionou a URA/Caetité. Mas, até o momento, não disponibilizou o relatório da vistoria. Já a INB foi compelida pelo Ministério Público Federal (MPF) a apresentar em Salvador, no dia 20 de setembro, a metodologia adotada na pesquisa sobre a ocorrência de doenças relacionadas a danos genéticos e neoplasias malignas na área de influência da mineradora. Nessa reunião, a versão da empresa, empenhada em assegurar a normalidade no complexo INB, foi contestada por representantes do Centro de Saúde do Trabalhador da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia e do INGA, enquanto organizações da sociedade civil enfatizaram a necessidade da realização da auditoria independente e multidisciplinar solicitada ao MPF, desde julho de 2001, para avaliar todos os aspectos relativos ao funcionamento da URA/Caetité.

A tolerância de órgãos licenciadores com o histórico de infrações da INB é uma rotina intolerável. Agem agora, com a mesma benevolência que demonstraram em acidentes anteriores, como no primeiro grande vazamento de licor de urânio, em 2000, que a empresa tentou esconder, chegando a sustentar uma versão de sabotagem. Só 3 anos depois, a CNEN admitiu que 67 quilos do concentrado de urânio vazaram por 76 dias, mas nega ter havido dano ambiental significativo. Anunciado como ano de expansão da produção, 2004 bateu recorde em irregularidades. Entre outros problemas, a bacia de retenção de particulados da cava da mina transbordou sete vezes, liberando líquido, com concentração de urânio-238, tório-232 e rádio-226 para o meio ambiente, através do leito do Riacho das Vacas. Fiscais da CNEN recomendaram a suspensão da mineração e a não renovação da AOI. Mas a direção da CNEN, à revelia da fiscalização, renovou a licença, auto-concedendo-se a AOI[1].

Insegurança – O Brasil tem a sexta maior reserva de urânio do mundo, e a mina baiana, descoberta na década de 1970 pela CNEN, fica entre os municípios de Caetité e Lagoa Real, na microrregião econômica de Guanambi, na Serra Geral, integrando as Bacias Hidrográficas do Rio de Contas e do São Francisco. Sua exploração busca a auto-suficiência na produção da matéria prima para o incremento do Programa Nuclear Brasileiro e calcula-se que as 100.000 toneladas estimadas poderão suprir a Central Nuclear de Angra dos Reis por 100 anos. O projeto básico da mina foi concluído em 1996, e a exploração começou em 2000 na jazida de Cachoeira, a 45 km da sede municipal, entre os distritos de Maniaçu (Caetité) e São Timóteo (Livramento)[2].

Sociedade de economia mista, a INB atua com produtos e serviços relacionados ao ciclo do combustível nuclear. O Projeto Lagoa Real foi ativado sem a Licença de Operação do IBAMA. Tinha só a Licença de Localização, do Conselho Estadual de Proteção ao Meio Ambiente, com 37 condicionantes[3]. Sem fazer o monitoramento da saúde dos trabalhadores e da população, e com estudos hidrogeológicos questionados pelo INGA, a URA/Caetité é alvo de denúncias, inquéritos, autuações, multas e acidentes nas instalações, ou com operários. Foi acusada de imperícia e negligência pela CNEN, que, contrariando suas próprias normas de segurança, renovou diversas vezes a Autorização de Operação Inicial (AOl) porque a INB não consegue se enquadrar nas normas de radioproteção e segurança, que só admite a renovação da AOI duas vezes.

O EIA-RIMA, datado de 1997, indicava que o complexo INB agrediria fortemente o meio físico e os sucessivos vazamentos de licor radioativo podem ter agravado os impactos previstos. Entre eles, estão a alteração da qualidade do ar (pelo desmonte de rochas na lavra do minério, gerando partículas e gás radônio); processos erosivos e deposição de sedimentos (assoreamento de lagos e riachos); contaminação dos mananciais subterrâneos, com alteração das suas propriedades; inviabilidade do uso da água do córrego do Engenho (com a implantação da barragem de rejeitos); perda da cobertura vegetal e destruição de habitats (desmatamento permanente e irreversível para a vida silvestre) e deposição de partículas radioativas sobre a cobertura vegetal (contaminação).

Desrespeito – A falta de transparência é um dos mais graves problemas na estrutura do estado brasileiro. Nos paises desenvolvidos o foco na soberania e defesa nacional foi substituído pela preocupação com a segurança do homem e do meio ambiente. No Brasil o setor continua envolto em sigilo, vigorando a filosofia do programa nuclear paralelo, de origem militar. A injustiça ambiental, atribuída ao setor, é experimentada cotidianamente pelos sertanejos, pois a INB viola direitos preconizados pelo Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, da ONU (PIDESC), descumpre convenções internacionais de segurança nuclear, desrespeitando ainda os princípios consagrados na Constituição brasileira (atividade controlada, controle democrático, responsabilidade objetiva) e na legislação ambiental (prevenção e precaução).

A empresa tem na desinformação sobre os riscos da atividade mineradora sua maior aliada para continuar produzindo, apesar dos perigos representados pelos sucessivos problemas operacionais. Parte da população urbana pensa estar livre da influência do complexo INB, seja porque a mineração fica longe da sede municipal, ou por não consumir a água usada na área do empreendimento, cujos mananciais vertem para a Bacia Hidrográfica do Rio de Contas – que abrange 63 municípios baianos e deságua em Itacaré, um paraíso ecológico na Mata Atlântica da Bahia. Mas a realidade dos moradores do campo é bem outra. Vítimas do descaso, da omissão, da negligência dos poderes públicos, estão mais próximos dos riscos e efeitos da mineradora, sendo mais diretamente afetados pela liberação de radônio na atmosfera e pela poeira gerada pelas explosões atômicas. Por isso, reagem com mais vigor contra a política de comunicação da INB, que nada divulga sobre as supostas análises da água, do solo, da vegetação e da saúde dos empregados.

Situada nas rotas de passagem para as Lavras Diamantinas e Goiás, no Sudoeste baiano, Caetité tem sua história associada à exploração de minérios, desde o ciclo do ouro e do diamante. Da mesma forma, as agressões à biodiversidade regional remontam a tempos idos e afetam a caatinga, vegetação predominante no território, de cerca de 1.902 km². O município é caracterizado pela concentração fundiária, pecuária extensiva e agricultura de subsistência (mandioca, cana, feijão, milho, café). De economia essencialmente agropecuária, a força de trabalho assalariada é pequena, vigorando relações trabalhistas baseadas na cooperação familiar e grupal. A ocupação é pouca na indústria (cerâmica, alimentícia e manufaturas têxteis) e crescente no comércio e serviços. Fértil em minerais e outros derivados (ferro, ametista, manganês, granito) o município abriga empresas (cerâmicas, mineradoras, eucalipto) que pouco contribuem para o progresso regional, diante da magnitude dos lucros que obtêm, ao custo de muita degradação sócio ambiental. O impacto inicial da INB sobre a economia foi marcante, com a subida de preços de bens de consumo, uso e serviços, de imóveis e aluguel, quando o custo de vida praticamente quadruplicou, mas não responde às demandas sociais por emprego, saúde, etc.

Para implantar o projeto Lagoa Real, a INB teve que deslocar 47 famílias, tornando-se a maior latifundiária da região, com apropriação de 1.850 ha, e total domínio do território e de seus recursos naturais, inclusive a água, escassa no Polígono das Secas, e consumida em grande escala em suas atividades. Os donos das terras só receberam uma indenização em dinheiro, e a empresa não executou o Plano de Desenvolvimento Sustentável, sugerido pelo EIA-RIMA para amenizar os prejuízos das famílias deslocadas involuntariamente – 30% delas sofrem hoje as conseqüências da irresponsabilidade social da INB[4]. Agora a região vive novo misto de euforia e inquietude com a chegada da Bahia Mineração, trazendo forasteiros em busca de emprego na exploração do ferro, e muito desassossego, elevando o custo de vida, estimulando o comércio de bares, hotéis e motéis, enquanto agrava os problemas sociais, como o desemprego, a prostituição de menores, a miséria.

Contradições – A complexa fabricação do combustível gerador de energia nuclear começa na Bahia, prossegue no exterior e termina no Brasil. O início desse processo acontece em Caetité: ali o urânio é extraído do minério, purificado e concentrado em forma de sal amarelo, que vai para o Canadá, dali saindo para a Europa (Alemanha, Holanda e Reino Unido), de onde volta para a Fábrica de Rezende (RJ), onde a geração do combustível é concluída. Desde 2005, a INB requereu ao IBAMA licença para fazer a conversão da atual lavra a céu aberto para subterrânea e para minerar mais duas jazidas (Quebrada e Engenho), a fim de dobrar a produção, pensando atender a uma eventual demanda de energia nuclear. Mas, ressaltando as contradições entre o discurso oficial, que enaltece as vantagens da energia, a excelência em segurança e a eficiência do setor nuclear, e problemas vividos na região, os moradores sustentam que duplicar o fabrico de urânio significará duplicar os nocivos impactos psico-sociais e aumentar os rejeitos.

A tecnologia nuclear, cara e perigosa, produz o lixo atômico, que dura pelo menos 50 mil anos e para o qual nenhum país no mundo encontrou solução. Na URA/Caetité, ficam provisoriamente em barris abertos, corroídos, expostos aos fortes aguaceiros da época das chuvas, o que aumenta o perigo de contaminação das águas superficiais e subterrâneas. Recentemente, comunidades rurais foram alertadas para o perigo da drenagem ácida, “gerada pela oxidação de sulfetos metálicos que acidificam as águas, com possibilidade de mobilizar elementos tóxicos e poluir os mananciais. Isto ocorre em quase todos os sítios de mineração a céu aberto, porque os metais pesados contidos na rocha são liberados quando a rocha é destruída e suas componentes expostas à reação ao ar livre e às chuvas. É preciso que sejam realizados e publicados estudos para poder avaliar com maior rigidez os impactos da atividade na qualidade da água e o potencial de drenagem ácida no local”[5].

Convivendo com a única indústria brasileira de urânio, que também abastece as usinas de Angra dos Reis (RJ), os baianos passaram a temer o agravamento dos prejuízos que já vêm amargando no interior do Estado, principalmente depois da divulgação de relatório da Câmara dos Deputados sobre a estrutura de radioproteção e segurança nuclear no Brasil, que detalha minuciosamente as irregularidades da INB, em Caetité. A publicação afirma que o setor “apresenta riscos inerentes para a população e o meio ambiente em função da ausência de segregação das funções de regulação, definição de política nuclear e condução das atividades operacionais”, e denuncia a fragilidade da fiscalização, já que a CNEN, proprietária das principais instalações nucleares e radioativas do País, atua como “fiscal de si mesma”[6].

Contaminação – A assistência à saúde sempre foi precária na região, que não dispõe de um centro de diagnóstico de câncer, decorrente de exposição a radiações ionizantes, e novos casos são registrados, inclusive entre os trabalhadores da mineradora. A preocupação aumentou a partir da Audiência Pública realizada em 2005, quando a INB admitiu que não fazia o controle da saúde da população e dos trabalhadores, alegando dificuldades para monitorar a contaminação provocada por suas atividades, já que os efeitos por baixas doses de radiação são cumulativos. Já bastante afetada pelos efeitos psico-sociais que estão sofrendo, ficou mais assustada ao saber que as neoplasias apresentam tendência crescente entre os grupos causadores de morte, sendo a segunda causa de óbitos na região, desde 1999. Na audiência, os poderes públicos e entidades da sociedade civil exigiram uma urgente inspeção no complexo INB, por um grupo técnico multidisciplinar, independente, com representantes da comunidade e acompanhamento dos Ministérios Públicos Federal e Estadual. Exigiram também que o IBAMA só decidisse sobre a renovação da LO (que venceria em outubro de 2006) e a ampliação da produção, após conhecer o relatório dessa inspeção[7].

Mas, em janeiro de 2007, apesar de multada pelo descumprimento da condicionante de saúde pelo IBAMA-BA, a INB foi “perdoada” pelo IBAMA-BSB, que não só renovou a LO, autorizando o aumento da produção de 300 para 400/t ano, como deu seis meses para a contratação do estudo epidemiológico, exigido desde 2002. Mesmo com a reincidência no descumprimento da condicionante, o IBAMA continuou renovando o prazo até sair a contratação, o que só ocorreu em junho de 2008, depois de muita pressão da sociedade. O estudo contratado é limitado e frustrou a expectativa, do ponto de vista da abrangência, da transparência e controle social, requeridos por uma investigação desta natureza.

Outro fato reacendeu o debate entre a comunidade e os responsáveis pela saúde pública municipal sobre o grau do perigo ao qual estão expostos: recente pesquisa revelou que em Caetité, a média de incorporação de radionuclídeos (átomos que emitem radiação) é de 52,3 ppb, 100 vezes maior que a média mundial, cerca de 2 vezes maior que a de Lagoa Real, 1 vez maior que a de Igaporã e 25 vezes maior que a da região de comparação, a represa de Guarapiranga (SP). O estudo analisou dentes como bioindicadores e, considerando que a concentração do urânio em dentes é similiar à ocorrida no esqueleto, avaliou que as populações de Caetité e da região estudada estão sujeitas a riscos radiobiológicos superiores aos de populações de outros locais do Brasil e do mundo, o que pode causar graves danos à saúde[8].

Irresponsabilidade – Desde 2001, o Ministério Público do Trabalho apontou diversas irregularidades na INB, que mantém 134 empregados e 233 terceirizados. Os últimos, apesar de mais expostos aos perigos, não têm assistência médica nem a segurança devidas. Atuam principalmente na extração, no empilhamento e lixiviação[9] do minério. São áreas controladas, mas com falhas na segurança. Na mina, os trabalhadores estão expostos a ruídos elevados e significativa poeira contaminada em suspensão. No local de britagem trabalham em situação crítica, ao ar livre, sujeitos à radiação solar. Além de circularem na área sem equipamentos de proteção respiratória, estão expostos à inalação, pois algumas canaletas de resíduos e tambores, onde são coletadas amostras do concentrado, não têm tampa. A falta de cuidados em relação à contaminação radiológica interna é tanta, que apenas as fardas dos trabalhadores da perfuratriz são lavadas na empresa. As demais são lavadas nas casas dos terceirizados, o que pode levar a exposição dos familiares e outras pessoas aos radionuclídeos.

Sucessivas inspeções dos órgãos competentes (Ministério Público do Trabalho, Delegacia Regional do Trabalho, Cesat, etc.) seguem constatando irregularidades trabalhistas, deficiências na avaliação da segurança no trabalho e a precária assistência à saúde. Essas inspeções resultaram em várias notificações e recomendações, não acatadas pela empresa, que é acusada de não apresentar os resultados de exames da exposição (dossimetrias) e de efeitos (audiometrias) realizados nos empregados.

Conflitos – Em 1999, várias famílias, vizinhas à mina, foram obrigadas a permitir a perfuração de poços artesianos e autorizar o uso gratuito, por tempo indeterminado, das águas subterrâneas dos seus lotes. Dezenas de poços foram abertos: com a extração de água durante doze horas por dia, a disponibilidade do produto, sempre mínima no semi-árido nordestino, chegou ao ponto crítico no segundo semestre de 2007. Proprietários rurais, que sofrem mais vitalmente com a suspeita de contaminação do lençol freático, a poluição e a exaustão dos mananciais, ouviram a empresa estadual que abastece o município, a Embasa, afirmar que o quadro tende a ficar crítico em 10 anos.

No final de 2007, os conflitos pelo uso da água levaram associações de pequenos agricultores a requerer ao Instituto de Gestão de Águas (INGA): o cancelamento das autorizações concedidas por eles à empresa; vistoria na licença de funcionamento da URA/Caetité, seguida de audiência pública em Riacho da Vaca, e acesso à água, controlada hoje pela INB – embora suas outorgas de uso estejam irregulares perante o INGA.

Reivindicações – A sociedade civil da Bahia, através de organizações e movimentos sociais e populares, vem questionando os rumos da política energética do país e repelindo a ameaça de nuclearização da região. Em 2007, entregou manifesto ao Governador Jaques Wagner defendendo o emprego de fontes limpas e renováveis de energia, condenando a conclusão de Angra 3 e postulando rigor na fiscalização da exploração de urânio em Caetité, para proteger a saúde da população e prevenir danos ao meio ambiente. À medida que os desacertos técnicos e operacionais da URA/Caetité ficam mais evidentes, os baianos reafirmam seu repúdio ao Programa Nuclear Brasileiro, que tenta impor a conclusão de Angra 3, a construção de usinas nas margens do Rio São Francisco, acordos nucleares com países sul-americanos e a instalação de usina na Bahia – proibida pela Constituição do Estado.

No Estado, a legislação ambiental é desrespeitada não só pela INB. A falta de transparência é geral na Bahia. Em Caetité, gestores estaduais e municipais ignoram o Art. 214, da Constituição baiana, que entre outras exigências, obriga os Poderes Executivos do Estado e dos Municípios, a “… II – garantir o amplo acesso da comunidade às informações sobre as fontes e causas da poluição e degradação ambiental e informar sistematicamente à população a qualidade do meio ambiente, os níveis de poluição, a presença de substâncias potencialmente danosas à saúde nos alimentos, água, ar e solo e as situações de riscos de acidente; IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade”.

Diante desta realidade, a população luta por uma ação articulada entre os órgãos de saúde, trabalho e meio ambiente nas três esferas de governo, para definir a intervenção que a gravidade do caso requer. A comunidade reivindica a instalação no âmbito do SUS de um serviço para a detecção de doenças do trabalho e a estruturação de um sistema de vigilância epidemiológica, toxicológica e radiológica capaz de identificar o câncer e demais doenças relacionadas a radiações ionizantes. Reivindica também que a licença de duplicação da produção, solicitada ao IBAMA desde 2005, só seja decidida após a apresentação do estudo de impacto ambiental em Audiência Pública, e que o monopólio da fiscalização exercido pela CNEN, seja substituído por uma comissão multi-institucional, integrando os Ministérios do Trabalho, Saúde, Meio Ambiente e todas as áreas afins, para garantir transparência e controle social sobre as atividades da INB.

* Zoraide Vilasboas integra a Coordenação de Comunicação da Associação Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça, Cidadania, – membro da RBJA. Contato para informações: assmpj@gmail.com
[1] Relatório da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados sobre Fiscalização e Segurança Nuclear, Brasília (março de 2006)
[2] Efeitos da Implantação do Projeto Lagoa Real na Qualidade de Vida das Famílias da Área Atingida, um estudo de caso de Manoel Raimundo Alves, 2005
[3] Informação Técnica No 23/002002 da Procuradoria da Republica na Bahia (18 de outubro de 2002).
[4] Efeitos da Implantação do Projeto Lagoa Real na Qualidade de Vida das Famílias da Área Atingida, um estudo de caso de Manoel Raimundo Alves, 2005
[5] Relatório de visita da Encarregada de Recursos Energéticos da MISEREOR, Ulrike Bickel, a Maniaçu (cerca de 2000 habitantes), (março de 2008)
[6] Relatório da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados sobre Fiscalização e Segurança Nuclear, Brasília (março de 2006)
[7] Ata da Audiência Pública sobre a INB – Industrias Nucleares do Brasil – Caetité e a Saúde da Comunidade e dos Trabalhadores, Caetite (13 de abril de 2005)
[8] Estudo de Contaminação Ambiental por Urânio no Município de Caetité-Ba, Utilizando Dentes Humanos como Bioindicadores, Geórgia R.Prado, Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC (2007).
[9] Termo original refere-se a ação solubilizadora de água misturada com cinzas dissolvidas (lixívia) constituindo uma solução alcalina eficaz na limpeza de objetos, mas, em geoquímica ou geologia de modo geral, usa-se para indicar qualquer processo de extração ou solubilização seletiva de constituintes químicos de uma rocha, mineral, depósito sedimentar, solo, etc., pela ação de um fluido percolante. Fonte http://www.unb.br/ig/glossario/verbete/lixiviacao.htm . Acesso em 08/10/2008

Artigo originalmente publicado na Rede Brasileira de Justiça Ambiental[EcoDebate, 05/11/2008]

DILMA RECEBE 8 EX MINISTROS, PARA DISCUTIR CÓDIGO FLORESTAL


Ex-ministros do Meio Ambiente se reuníram com Dilma 
A presidente Dilma Rousseff (PT) recebeu, no final da manhã desta terça-feira (24), oito ex-ministros de Meio Ambiente que foram à Brasília pedir o adiamento da votação na Câmara Federal do novo Código Florestal. "A presidente manifestou preocupação com o aumento do desmatamento em 450% no Mato Grosso só com a expectativa de aprovação da lei", afirmou Marina Silva, primeira ministra do governo do ex-presidente Lula.

Paulo Nogueira Neto, considerado o primeiro da área no país, afirmou que a motivação da manifestação dos ex-chefes de pastas é o futuro ambiental do país e da própria viabilidade da produção agrícola. Já Rubens Ricúpero, que ocupou o cargo entre 1993 e 1994, disse que afirmou à petista que, caso aprovado como o relator Aldo Rebelo (PCdoB) propõe, o novo Código será "um grande constrangimento para o Brasil na Rio+20", evento que o país sediará no próximo ano. "[Aprovar o texto] Dará um argumento extraordinário para países que [defenderão] que a nossa agricultura só é capaz de concorrer por uma razão desleal, por atentar contra a biodiversidade", comentou. Informações da Folha On Line.
 

quinta-feira, 19 de maio de 2011

PV BAIANO DIVULGA NOTA OFICIAL

O Partido Verde vem de público manifestar sua preocupação sobre a retirada do poder licenciatório do Conselho Estadual de Meio Ambiente da Bahia sobre os empreendimentos de grande impacto ambiental .Afirmamos nossa concordância com a tese de unificação do IMA e do INGÁ, constituindo um único órgão executor do Sistema Estadual de Meio Ambiente, matéria constante do mesmo projeto de lei oriundo do governo e aprovado pelo Legislativo estadual, que excluiu a competência licenciatória do CEPRAM.
A proposta de unificação visa maior integração e racionalização do Sistema Estadual de Meio Ambiente, favorecendo uma gestão ambiental mais qualificada.  Consideramos indispensável para dar conseqüência a estes objetivos a prévia realização de concurso público e a articulação dos planejamentos e dos procedimentos existentes nos órgãos extintos pela nova reestruturação.O Conselho Estadual de Meio Ambiente, o CEPRAM é o mais antigo Conselho do país, tendo sido criado em 1973,em plena ditadura militar. Ao longo dos seus quase 38 anos foi decisiva a participação da sociedade civil na discussão e deliberação sobre os empreendimentos com significativo impacto ambiental.

 Além desta atribuição o Conselho sempre preservou sua condição de normatizador e regulador do Sistema Estadual de Meio Ambiente.O Conselho Estadual de Meio Ambiente nunca foi um ponto de gargalo para a agilização das licenças ambientais, já que eram muito poucas as licenças que por lá tramitavam (em torno de 3 a 4 % na média).Considerando que a questão ambiental tem se tornado motivo de grande preocupação por parte da nossa sociedade, tornando-se agenda obrigatória pela sua relevância, avaliamos com grande apreensão a retirada da condição do CEPRAM de licenciar aqueles empreendimentos que, pela natureza do seu impacto, exigem o compartilhamento e a opinião da sociedade civil.O Partido Verde estará atento, acompanhando os desdobramentos desta equivocada decisão, que não trará nenhum benefício de agilização das licenças e prejudicará muito a condição de participação da cidadania sobre empreendimentos cujas repercussões podem afetar as vidas de todos nós e de nosso Estado.

domingo, 15 de maio de 2011

Convocação de Filiados

 A Executiva Municipal do Partido Verde em Ilhéus convoca seus filiados a comparecerem a 1ª reunião político-partidária do ano em curso. A reunião irá abrir um ciclo de debates sobre os principais problemas enfrentados pelo município de Ilhéus  e sua população,além de discutir possíveis soluções e um modelo de desenvolvimento e gestão referenciados nos princípios que norteiam o partido.Nesta mesma reunião, iniciaremos também a discussão do projeto eleitoral para as eleições em 2012.

Local: Colônia de Pescadores do Pontal - Z 19
           rua Castro Alves nº 114 Pontal, próximo a Pousada Pier do Pontal

Data: 18/05/2011 - Quarta-Feira / 19:00 H

sábado, 7 de maio de 2011

PV ENTRA NO STF PARA BARRAR VOTAÇÃO DO CÓDIGO FLORESTAL


O líder do Partido Verde (PV) na Câmara dos Deputados e o presidente nacional da legenda, deputados Sarney Filho e José Luiz de França Penna, impetraram Mandado de Segurança (MS 30589) no Supremo Tribunal Federal (STF) em que pedem liminar para impedir a votação do substitutivo ao Projeto de Lei nº 1.876/99, que institui o novo Código Florestal. De acordo com os dois parlamentares, a inclusão da matéria em pauta pelo presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), viola o dispositivo (art. 62, parágrafo 6º) que determina o sobrestamento de todas as deliberações legislativas quando há medidas provisórias pendentes de apreciação.
“Convém ressaltar que, para evadir-se da restrição constitucional à tramitação de projetos de leis ordinárias imposta no § 6º do art. 62, tem-se utilizado de expediente burlesco, com a introdução nos textos a serem apreciados de cláusulas de direito penal, que não podem ser objeto de medidas provisórias (art. 62 § 1º, alínea 'b'). Dir-se-ia que se trata de manobra torpe para mascarar de constitucionalidade a inclusão em pauta de projeto de lei ordinária, que simplesmente revoga o Código Florestal vigente e institui um novo diploma sobre a mesma matéria, estando pendentes de apreciação inúmeras medidas provisórias, inclusive a que alterou substancialmente o Código em vigor”, argumenta a defesa do PV.Os dois deputados afirmam que o mandado de segurança não é “mero capricho" de minoria ou de oposição. "O único motivo que move a ação mandamental é que não se pode atropelar a Constituição, ignorando a evidente ofensa ao seu texto, bem como às normas regimentais da Casa”, concluem.Em razão da urgência, os deputados pedem que seja concedida liminar para determinar que o presidente da Câmara retire de pauta o substitutivo ao Projeto de Lei 1.876/99 ou, caso tenha sido iniciada a votação, que se determine a suspensão da apreciação da matéria até que todas as medidas provisórias que trancam a pauta sejam votadas ou até a decisão final do STF neste mandado de segurança.O relator do MS é o ministro Dias Toffoli.Fonte: Notícias do STF  Assessoria de ImprensaLiderança do Partido VerdeCâmara dos Deputados

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Professora da USP alerta: Dizer que reatores nucleares duram,em média,40,60 anos é blefe

Estados Unidos são os que têm mais - 104. Seguem-se França (58), Japão (55), Federação Russa (32) Coréia (21), Índia e Inglaterra (19 cada), Canadá (18), Alemanha (17), Ucrânia (15), China (13), Suécia (10), Espanha (8), Bélgica (7), República Checa (7), Finlândia, Hungria e República Eslovaca (4 cada). 
Vários países têm dois reatores: Argentina, Brasil, Bulgária, Paquistão, México, Romênia e África do Sul. Eslovênia, Armênia e Holanda possuem um.
Há 61 reatores em construção. Boa parte na China (24) e Federação Russa (11). Coreia tem cinco e Índia, quatro. Bulgária, Japão, República Eslovaca, Ucrânia, dois. Argentina, Brasil, França, Paquistão, Estados Unidos, Finlândia e Irã. Isso sem contar os muitos projetados - só no Brasil, 50 para os próximos 50 anos.
Esse novo impulso da energia nuclear está alicerçado em alguns fatores, especialmente estes:
1) Até as explosões dessa semana no complexo de Fukushima, Japão, acidente grave em usina nuclear já era história, memória, vaga lembrança. Dos 191 milhões de brasileiros, cerca de 80 milhões sequer eram nascidos quando houve o de Chernobyl, em 1986, Ucrânia (então parte da extinta União Soviética), considerado ainda o maior da história.

2) O modelo teórico de que o tempo de vida útil de um reator atômico é de 40 anos, prazo que foi estendido por mais 20. Ou seja, um reator duraria 60 anos.
3) A informação de alguns especialistas de que o reator seria a fonte produtora de energia que emitiria menos C02 (gás carbônico) na atmosfera, produzindo menos efeito estufa. Consequentemente, seria útil para reduzir o aquecimento global.
"Acontece que informações mais recentes revelam realidade diferente, geralmente omitida pelos defensores da energia nuclear", alerta a professora Emico Okuno, doDepartamento de Física Nuclear do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP). "Para começar, não procede que o tempo médio de vida de um reator é 40 anos, 60 então nem fala. Isso é blefe."
NOS EUA, OS REATORES DURAM, EM MÉDIA, 18,9 ANOS
Com base em modelos matemáticos, se estabeleceu que um reator tem vida útil média de cerca de 40 anos, agora de 60. É em cima desse prazo que se fixa o custo da energia nuclear.
Só que a prática está mostrando que eles duram muito menos. Dados até 2008 revelam que o tempo médio de vida dos reatores nos Estados Unidos é de 13,9 anos. Tempo máximo, 34 anos. E o mínimo, 1 ano. Lá, três funcionaram apenas um ano; e nove, em média, 7,6 anos.
"Eles foram fechados ou porque não eram economicamente viáveis ou porque tiveram algum tipo de problema", diz a professora Emico. "Só os grandes acidentes tornam-se públicos, os menores, e eles ocorrem com frequência, não chegam à mídia."
Na Alemanha, o tempo médio de vida dos reatores é de 13,8 anos. Tempo mínimo, 1 ano. Tempo máximo, 47 anos.
Na França, o tempo médio é de 19,6 anos. O mínimo, 9 anos. O máximo, 24.

Os do Reino Unido são os de vida mais longa: 34,7 anos, em média; mínimo, 18 anos; máximo, 47 anos.
"Portanto, a história de 40 e 60 anos, em média, é balela", reforça a professora Emico, que, diga-se de passagem, não teve acesso a informações privilegiadas. "Elas estão no site da Agência Internacional de Energia Atômica, para quem quiser acessar. O que eu fiz foi analisar esses dados. As pessoas favoráveis à energia nuclear não mentem, mas elas também não contam, pois isso não lhes interessa dizer."

Por falar nisso, quando termina a vida útil de um reator, ele tem de ser "destruído". Esse processo chama-se descomissionamento. É a construção do reator ao contrário. Demora 60 anos para ele ser descomissionado totalmente e transformado num parque público. Isso sem contar o lixo radioativo de alta atividade que é o combustível exaurido produzido ao longo da existência dele.

O dinheiro gasto para o reator ser "destruído" é quase igual ao empregado para construí-lo. E quem paga essa conta? O governo ou a concessionária? Isso provavelmente não está escrito em lugar algum. É uma briga das boas.

CADEIA PRODUTIVA DE ENERGIA NUCLEAR PRODUZ MAIS CO2 DO QUE AHÍDRICA
"A informação de que a energia nuclear provocaria menor emissão de CO2 parece também que não é verdadeira", observa a professora Emico. "Novos estudos indicam que a energia nuclear é mais poluente do que a hídrica."

De uns três anos para cá, cientistas fizeram cálculos matemáticos dos níveis de emissão de CO2 das diferentes fontes de produção de energia. A partir daí elaboraram uma escala, indo do mais ao menos poluente. Em primeiro lugar, está o carvão, em segundo, o óleo combustível, em terceiro, gás, em quarto, a energia hídrica. Em seguida, energia solar, eólica, biomassa e - a menos produtora de CO2 - energia nuclear. Detalhe: esses autores consideraram a emissão de CO2 apenas no reator.

Mais recentemente outros cientistas decidiram levar em conta não apenas a emissão de CO2 no reator, mas em toda a cadeia produtiva para se obter a energia nuclear. Ou seja, desde a exploração do urânio na mina - é preciso dinamitá-la - até o seu enriquecimento para ser usado no reator como combustível.
Para se ter uma noção dessa cadeia, o urânio explorado no Brasil (quarta reserva do mundo) é extraído em Caetité (BA). Aí, é transformado em yellow cake, um pó amarelo. Via porto de Salvador, vai para o Canadá, onde é transformado em gás. Do Canadá vai para a França, para ser enriquecido. De lá, volta ao Brasil, para ser transformado em pastilhas, que serão usadas nos reatores de Angra 1 e Angra 2, no Rio de Janeiro. Há informações de que o Brasil já detém a tecnologia para fazer tudo isso aqui. De qualquer forma, o urânio teria de passar por etapas.

Pois bem, há estudos revelando que toda essa cadeia produtiva acaba produzindo mais CO2 do que a energia hídrica. Assim, a energia nuclear ocuparia o quarto lugar em termos de poluição e a energia hídrica, a quinta.

"Na verdade, todas as formas de energia têm algum tipo de problema", pondera a professora. "A energia hídrica é limpa, mas leva à inundação de grandes áreas. Já a energia solar ainda é muito cara."

E qual a posição da professora Emico Okuno em relação aos reatores nucleares?
"França e Japão, por exemplo, não têm muita alternativa. Já o Brasil, por enquanto, não precisa de reator para geração de energia", expõe. "O Brasil tem condições de produzir muita energia a partir da energia hídrica, eólica, solar. No Nordeste do Brasil, há sol para dar e vender."

"O Brasil, porém, precisa de reator nuclear para produção de materiais radioativos, para uso na Medicina", defende a professora. "É para não ficarmos reféns de outros países, como aconteceu no ano passado. O reator do Canadá que fornecia radioisótopos teve de fechar. Praticamente o mundo inteiro ficou na mão. O Brasil conseguiu um pouco com a Argentina. Mas o conveniente é que tenhamos a nossa própria produção de material radioativo para fins médicos."
Quando há um grave acidente nuclear, a discussão sobre os reatores reacende. Foi assim pós Three Mile Island, Pensilvânia, EUA, em 1979. Depois, pós Chernobyl. Com Fukushima não será diferente. A diferença é que agora há informações mais precisas para o debate. Por exemplo, considerando que duram muito menos do que se supunha, será muitos mais serão construídos? Será que do ponto de vista econômico se justificam, já que têm menor tempo de vida? E do ponto de vista ambiental, considerando que possivelmente sejam mais poluentes do que as energias hídrica, eólica, solar e a biomassa?
O fato é que por mais seguros que os reatores sejam, eles têm um risco. Fuskushima está aí para nos fazer refletir. Infelizmente. Por Conceição Lemes*Professora da USP alerta: Dizer que os reatores nucleares duram, em média, 40, 60 anos é blefeHá no mundo 441 reatores nucleares em funcionamento.

Estados Unidos são os que têm mais - 104. Seguem-se França (58), Japão (55), Federação Russa (32) Coréia (21), Índia e Inglaterra (19 cada), Canadá (18), Alemanha (17), Ucrânia (15), China (13), Suécia (10), Espanha (8), Bélgica (7), República Checa (7), Finlândia, Hungria e República Eslovaca (4 cada). 
Vários países têm dois reatores: Argentina, Brasil, Bulgária, Paquistão, México, Romênia e África do Sul. Eslovênia, Armênia e Holanda possuem um.
Há 61 reatores em construção. Boa parte na China (24) e Federação Russa (11). Coreia tem cinco e Índia, quatro. Bulgária, Japão, República Eslovaca, Ucrânia, dois. Argentina, Brasil, França, Paquistão, Estados Unidos, Finlândia e Irã. Isso sem contar os muitos projetados - só no Brasil, 50 para os próximos 50 anos.

Esse novo impulso da energia nuclear está alicerçado em alguns fatores, especialmente estes:
1) Até as explosões dessa semana no complexo de Fukushima, Japão, acidente grave em usina nuclear já era história, memória, vaga lembrança. Dos 191 milhões de brasileiros, cerca de 80 milhões sequer eram nascidos quando houve o de Chernobyl, em 1986, Ucrânia (então parte da extinta União Soviética), considerado ainda o maior da história.

2) O modelo teórico de que o tempo de vida útil de um reator atômico é de 40 anos, prazo que foi estendido por mais 20. Ou seja, um reator duraria 60 anos.
3) A informação de alguns especialistas de que o reator seria a fonte produtora de energia que emitiria menos C02 (gás carbônico) na atmosfera, produzindo menos efeito estufa. Consequentemente, seria útil para reduzir o aquecimento global.

"Acontece que informações mais recentes revelam realidade diferente, geralmente omitida pelos defensores da energia nuclear", alerta a professora Emico Okuno, doDepartamento de Física Nuclear do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP). "Para começar, não procede que o tempo médio de vida de um reator é 40 anos, 60 então nem fala. Isso é blefe."
NOS EUA, OS REATORES DURAM, EM MÉDIA, 18,9 ANOS
Com base em modelos matemáticos, se estabeleceu que um reator tem vida útil média de cerca de 40 anos, agora de 60. É em cima desse prazo que se fixa o custo da energia nuclear.
Só que a prática está mostrando que eles duram muito menos. Dados até 2008 revelam que o tempo médio de vida dos reatores nos Estados Unidos é de 13,9 anos. Tempo máximo, 34 anos. E o mínimo, 1 ano. Lá, três funcionaram apenas um ano; e nove, em média, 7,6 anos.
"Eles foram fechados ou porque não eram economicamente viáveis ou porque tiveram algum tipo de problema", diz a professora Emico. "Só os grandes acidentes tornam-se públicos, os menores, e eles ocorrem com frequência, não chegam à mídia."

Na Alemanha, o tempo médio de vida dos reatores é de 13,8 anos. Tempo mínimo, 1 ano. Tempo máximo, 47 anos.
Na França, o tempo médio é de 19,6 anos. O mínimo, 9 anos. O máximo, 24.
Os do Reino Unido são os de vida mais longa: 34,7 anos, em média; mínimo, 18 anos; máximo, 47 anos.
"Portanto, a história de 40 e 60 anos, em média, é balela", reforça a professora Emico, que, diga-se de passagem, não teve acesso a informações privilegiadas. "Elas estão no site da Agência Internacional de Energia Atômica, para quem quiser acessar. O que eu fiz foi analisar esses dados. As pessoas favoráveis à energia nuclear não mentem, mas elas também não contam, pois isso não lhes interessa dizer."
Por falar nisso, quando termina a vida útil de um reator, ele tem de ser "destruído". Esse processo chama-se descomissionamento. É a construção do reator ao contrário. Demora 60 anos para ele ser descomissionado totalmente e transformado num parque público. Isso sem contar o lixo radioativo de alta atividade que é o combustível exaurido produzido ao longo da existência dele.
O dinheiro gasto para o reator ser "destruído" é quase igual ao empregado para construí-lo. E quem paga essa conta? O governo ou a concessionária? Isso provavelmente não está escrito em lugar algum. É uma briga das boas.

CADEIA PRODUTIVA DE ENERGIA NUCLEAR PRODUZ MAIS CO2 DO QUE AHÍDRICA
"A informação de que a energia nuclear provocaria menor emissão de CO2 parece também que não é verdadeira", observa a professora Emico. "Novos estudos indicam que a energia nuclear é mais poluente do que a hídrica."
De uns três anos para cá, cientistas fizeram cálculos matemáticos dos níveis de emissão de CO2 das diferentes fontes de produção de energia. A partir daí elaboraram uma escala, indo do mais ao menos poluente. Em primeiro lugar, está o carvão, em segundo, o óleo combustível, em terceiro, gás, em quarto, a energia hídrica. Em seguida, energia solar, eólica, biomassa e - a menos produtora de CO2 - energia nuclear. Detalhe: esses autores consideraram a emissão de CO2 apenas no reator.
Mais recentemente outros cientistas decidiram levar em conta não apenas a emissão de CO2 no reator, mas em toda a cadeia produtiva para se obter a energia nuclear. Ou seja, desde a exploração do urânio na mina - é preciso dinamitá-la - até o seu enriquecimento para ser usado no reator como combustível.
Para se ter uma noção dessa cadeia, o urânio explorado no Brasil (quarta reserva do mundo) é extraído em Caetité (BA). Aí, é transformado em yellow cake, um pó amarelo. Via porto de Salvador, vai para o Canadá, onde é transformado em gás. Do Canadá vai para a França, para ser enriquecido. De lá, volta ao Brasil, para ser transformado em pastilhas, que serão usadas nos reatores de Angra 1 e Angra 2, no Rio de Janeiro. Há informações de que o Brasil já detém a tecnologia para fazer tudo isso aqui. De qualquer forma, o urânio teria de passar por etapas.
Pois bem, há estudos revelando que toda essa cadeia produtiva acaba produzindo mais CO2 do que a energia hídrica. Assim, a energia nuclear ocuparia o quarto lugar em termos de poluição e a energia hídrica, a quinta.
"Na verdade, todas as formas de energia têm algum tipo de problema", pondera a professora. "A energia hídrica é limpa, mas leva à inundação de grandes áreas. Já a energia solar ainda é muito cara."
E qual a posição da professora Emico Okuno em relação aos reatores nucleares?
"França e Japão, por exemplo, não têm muita alternativa. Já o Brasil, por enquanto, não precisa de reator para geração de energia", expõe. "O Brasil tem condições de produzir muita energia a partir da energia hídrica, eólica, solar. No Nordeste do Brasil, há sol para dar e vender."
"O Brasil, porém, precisa de reator nuclear para produção de materiais radioativos, para uso na Medicina", defende a professora. "É para não ficarmos reféns de outros países, como aconteceu no ano passado. O reator do Canadá que fornecia radioisótopos teve de fechar. Praticamente o mundo inteiro ficou na mão. O Brasil conseguiu um pouco com a Argentina. Mas o conveniente é que tenhamos a nossa própria produção de material radioativo para fins médicos."
Quando há um grave acidente nuclear, a discussão sobre os reatores reacende. Foi assim pós Three Mile Island, Pensilvânia, EUA, em 1979. Depois, pós Chernobyl. Com Fukushima não será diferente. A diferença é que agora há informações mais precisas para o debate. Por exemplo, considerando que duram muito menos do que se supunha, será muitos mais serão construídos? Será que do ponto de vista econômico se justificam, já que têm menor tempo de vida? E do ponto de vista ambiental, considerando que possivelmente sejam mais poluentes do que as energias hídrica, eólica, solar e a biomassa?
O fato é que por mais seguros que os reatores sejam, eles têm um risco. Fuskushima está aí para nos fazer refletir. Infelizmente. Por Conceição Lemes*

segunda-feira, 2 de maio de 2011

BRASIL, O ÚLTIMO DOS 36 PAÍSES -EM QUE? -POPULAÇÃO COM DIPLOMA UNIVERSITÁRIO


Pesquisa sobre população com diploma universitário deixa o Brasil em último lugar entre 36 países 

                Amanda Cieglinski, da Agência Brasil 

                Para concorrer em pé de igualdade com as potenciais mundiais, o Brasil terá que fazer um grande esforço para aumentar o percentual da população com formação acadêmica superior. Levantamento feito pelo especialista em análise de dados educacionais Ernesto Faria, a partir de relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), coloca o Brasil no último lugar em um grupo de 36 países ao avaliar o percentual de graduados na população de 25 a 64 anos. 

                Os números se referem a 2008 e indicam que apenas 11% dos brasileiros nessa faixa etária têm diploma universitário. Entre os países da OCDE, a média (28%) é mais do que o dobro da brasileira. O Chile, por exemplo, tem 24%, e a Rússia, 54%. O secretário de Ensino Superior do Ministério da Educação (MEC), Luiz Cláudio Costa, disse que já houve uma evolução dessa taxa desde 2008 e destacou que o número anual de formandos triplicou no país na ultima década. 

                     “Como saímos de um patamar muito baixo, a nossa evolução, apesar de ser significativa, ainda está distante da meta que um país como o nosso precisa ter”, avalia. Para Costa, esse cenário é fruto de um gargalo que existe entre os ensinos médio e o superior. A inclusão dos jovens na escola cresceu, mas não foi acompanhada pelo aumento de vagas nas universidades, especialmente as públicas. “ Isso [acabar com o gargalo] se faz com ampliação de vagas e nós começamos a acabar com esse funil que existia”, afirmou ele. 

                       Costa lembra que o próximo Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece como meta chegar a 33% da população de 18 a 24 anos matriculados no ensino superior até 2020. Segundo ele, esse patamar está, atualmente, próximo de 17%. Para isso será preciso ampliar os atuais programas de acesso ao ensino superior, como o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que aumentou o número de vagas nessas instituições, o Programa Universidade para Todos (ProUni), que oferece aos alunos de baixa renda bolsas de estudo em instituições de ensino privadas e o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), que permite ao estudantes financiar as mensalidades do curso e só começar a quitar a dívida depois da formatura. 

                     “O importante é que o ensino superior, hoje, está na agenda do brasileiro, das famílias de todas as classes. Antes, isso se restringia a poucos. Observamos que as pessoas desejam e sabem que o ensino superior está ao seu alcance por diversos mecanismos”, disse o secretário. 

                     Os números da OCDE mostram que, na maioria dos países, é entre os jovens de 25 a 34 anos que se verifica os maiores percentuais de pessoas com formação superior. Na Coreia do Sul, por exemplo, 58% da população nessa faixa etária concluiu pelo menos um curso universitário, enquanto entre os mais velhos, de 55 a 64 anos, esse patamar cai para 12%. No Brasil, quase não há variação entre as diferentes faixas etárias. 

                        O diagnóstico da pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) e especialista no tema Elizabeth Balbachevsky é que essa situação é reflexo dos resultados ruins do ensino médio. Menos da metade dos jovens de 15 a 17 anos está cursando o ensino médio. A maioria ou ainda não saiu do ensino fundamental ou abandonou os estudos. “Ao contrário desses países emergentes, a população jovem que consegue terminar o ensino médio no Brasil [e que teria condições de avançar para o ensino superior] é muito pequena”. 

                        Como 75% das vagas em cursos superiores estão nas instituições privadas, Elizabeth defende que a questão financeira ainda influencia o acesso. “Na China, as vagas do ensino superior são todas particulares. Na Rússia, uma parte importante das matrículas é paga, mas esses países desenvolveram um esquema sofisticado de financiamento e apoio ao estudante. O modelo de ensinos superior público e gratuito para todos, independentemente das condições da família, é um modelo que tem se mostrado inviável em muitos países”, comparou ela. 

                          A defasagem em relação outros países é um indicador de que os programas de inclusão terão que ser ampliados. Segundo Costa, ainda há espaço – e demanda – para esse crescimento. Na última edição do ProUni, por exemplo, 1 milhão de candidatos se inscreveram para disputar as 123 mil bolsas ofertadas. Elizabeth sugere que os critérios de renda para participação no programa sejam menos limitadores, para incluir outros segmentos da sociedade. 

                        “Os dados mostram que vamos ter que ser muito mais ágeis, como estamos sendo, fazer esse movimento com muita rapidez porque, infelizmente, nós perdemos quase um século de investimento em educação. A história nos mostra que a Europa e outras nações como os Estados Unidos e, mais recentemente, os países asiáticos avançaram porque apostaram decididamente na educação. O Brasil decidiu isso nos últimos anos e agora trabalha para saldar essa dívida”, disse a pesquisadora. 

(Agência Brasil)