quinta-feira, 3 de junho de 2010

Para Candidato Verde, PT virou máquina de ganhar eleições.

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Por Davi Lemos ---Direto de Salvador

O deputado federal Luiz Bassuma (PV), pré-candidato ao governo do Estado da Bahia, não fugiu de questões polêmicas e, dentre outras declarações, afirmou que foi para ele uma honra ser punido pelo PT por não defender a legalização do aborto. "O aborto é um crime", enfatizou ele, que não dispensou críticas ao antigo partido, do qual vem se afastando desde o episódio do mensalão que, dentre outras consequências, custou o mandato do ex-deputado José Dirceu, então ministro da Casa Civil.
Bassuma também cobrou coerência do ministro da Cultura, Juca Ferreira, acusado de utilizar o cargo de ministro para impedir a candidatura dos verdes à presidência e nos estados. "Queriam que o PV fosse uma sublegenda do PT", disparou. Ele também barrou a possibilidade de lançamento do presidente do Olodum, João Jorge, ao Senado. Afirmou que o PV terá apenas um candidato, o deputado federal Edson Duarte.
 
 
Terra - Dentro deste quadro sucessório, o que representa a candidatura do PV?
Bassuma - Neste momento em que a conjuntura, nacional que, lógico, reverbera na Bahia, em nosso estado, o Partido Verde se apresenta como alternativa de poder, para desenhar e construir um novo modelo econômico, que não mais degrade a natureza, não mais destrua os recursos naturais e que faça inserção social com melhor distribuição de renda, é da maior relevância. Seria muito triste se não tivéssemos a candidatura da (senadora) Marina (Silva, pré-candidata à presidência pelo PV) e, também na Bahia, para que a sociedade pudesse dialogar e pudéssemos oferecer este modelo que é diferente daquilo que é proposto pelo PT e pelos outros partidos que estão, com legitimidade, disputando as eleições, mas que estão com um pensamento ultrapassado e que não atende aos anseios da nossa contemporaneidade.
Terra - As candidaturas que são colocadas como principais no estado pretendem reproduzir na Bahia uma espécie de eleição plebiscitária que já se configura no plano nacional. Como o PV se organiza para se apresentar como opção viável?
Bassuma
- Não há mais risco nenhum (da eleição plebiscitária), graças a Deus. Se o partido não estivesse nacionalmente na disputa com Marina, o plebiscito certamente já se teria sido feito, pois Ciro (Gomes, deputado federal pelo PSB/CE) foi eliminado; não teria outra alternativa. Já na Bahia, não há risco nenhum de plebiscito, até porque nós temos quatro forças, em tese, disputando estas eleições. A primeira é a eleição do PT, com (o governador Jaques) Wagner; a segunda, o Democratas, com Paulo Souto a governador; e a terceira com Geddel (Vieira Lima) do PMDB e nós do Partido Verde, que não tem ligação com nenhuma das três e que temos outra candidatura presidencial. Portanto o plebiscito na Bahia está praticamente impossível, bem como é garantido na Bahia não há condições de as eleições serem vencidas no primeiro turno por nenhum dos concorrentes. Teremos ainda o segundo turno e isso é bom para a democracia. Costumo dizer que, no primeiro turno, seria ideal que os partidos organizados, que têm ideal, alguma formulação de poder para organizar a sociedade, fizerem o máximo de candidaturas. Escolhido os dois que vão para o segundo turno, aí sim, seria o momento de fazer as alianças. Aí a pessoa escolhe o menos pior, aquele que se aproxima mais daquele que votei no primeiro turno.
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Terra - Como o senhor avalia os critérios para firmar alianças aqui no estado e no Brasil? Parece que hoje as questões de princípio, de ideais, são o que menos importa.
Bassuma
- Se houve um ponto comum que fez a Marina Silva e eu sairmos do PT e ingressarmos no Partido Verde - na minha questão teve o fato de eu também não querer abrir mão de minha liberdade de expressão, contra a legalização do aborto -, também teve um fator que foi o seguinte: o partido que nós trabalhamos a vida toda, que é o PT, ele foi se transformando numa máquina de ganhar eleições. E como para os grandes partidos do Brasil no período eleitoral vale tudo, bota tudo, vai por terra o ideal, a ideologia e as utopias. O que interessa é o seguinte: dá voto, tem peso na eleição? Então vamos nos aliar. Eu sou contra isso. Toda aliança tem que ter o mínimo de consistência e de coerência programática, senão vira aliança puramente eleitoral para se vencer. Prova disso foi o esforço violento feito pelo Wagner e o PT para trazer César Borges (PR) como candidato a senador, ele que era uma das expressões mais cristalizadas daquilo que o PT tentou romper com o passado, que era o que não funcionava no carlismo e perdeu para o Geddel na reta final, o que mostra que ali era uma aliança puramente pragmática no sentido de trazer mais alguns votos para ganhar as eleições. Disso nós discordamos.
 
Terra - Quando à questão da segurança pública, que afirmam ser o calcanhar de Aquiles da atual administração, como isso deve ser tratado durante a campanha eleitoral? Qual seria também a saída deste problema?
Bassuma
- A segurança pública é questão muito complexa. Costumo sempre dizer que um governo, em qualquer parte do mundo e em qualquer esfera federal, estadual ou municipal tem que cuidar de três áreas essenciais, que são educação de qualidade, saúde pública universal e a segurança, a garantia que o cidadão tem de ir e vir, sem o risco de ser assassinado ou assaltado, esses são papéis cruciais do estado. Quando estas áreas não vão bem, a tendência é o resto também não ir bem, e estas três áreas na Bahia não estão bem, com destaque para a segurança pública. Nos últimos anos, a situação que não era boa piorou em relação à atuação do chamado crime organizado. Nós temos uma sociedade violenta por vários fatores e os homicídios, os crimes passionais têm origem numa sociedade que ainda tem a violência perpassando em suas relações; e o estado pode ajudar a melhorar esta cultura. O PV defende a criação de um organismo que se dedique a uma cultura da paz e ninguém se dedica a isso. Vamos dar importância a isto em nosso governo: a paz como veículo para resolver este problema em nossas cidades. Mas a política de segurança é simples, não tem mistério. Quem se dedica a estudar isso sabe que é preciso investir primeiro em inteligência e a Bahia é sempre precária. Não adianta tratar o crime organizado na base, tem que prevenir com serviço de alta inteligência. E o Estado tem condições de ter alta tecnologia, profissionais qualificados para investigar, para desmantelar a cúpula do crime organizado.
 
Terra - Mas isto seria feito sem repressão?
Bassuma
- A segunda falha justamente é a forma de repressão, que é ainda completamente discriminatória. Se o ladrão for um pouquinho inteligente, ele veste um terno, faz a barba bonitinho, não vai ter repressão. Se estiver de sandália, de bermuda e for negro, este vai receber repressão automática. Nós temos que mudar esta cultura, pois repressão não resolve nada. Nós temos que ter a polícia para reprimir o crime, mas precisamos de outra cultura de repressão: tem que ser civilizada, firme e ética. Depois disso, entra a questão das viaturas, dos armamentos; a polícia tem que ser muito bem preparada, o salário não pode ser aviltado. É uma categoria que convive com o crime e estaria muito propensa a ser corrompida. Ter a corregedoria para eliminar os maus policiais. Há uma série de mudanças que precisam acontecer na estrutura na política de segurança pública na Bahia, que deixa muito a desejar. Por isso o crime aumenta tanto aqui.
 
Terra - Hoje, na saúde, explodem os casos de meningite e a dengue volta a preocupar.
Bassuma
- Que coisa triste. Um país como o nosso, que é uma potência. Nós somos uma das maiores potências econômicas do mundo há 30 anos já. E somos o país mais rico do planeta Terra. Água, terra, minério, energia. Tudo tem aqui em abundância. Então é lamentável que, com tanto recurso que a tecnologia nos coloca à disposição e com tanta riqueza que nós temos, nós ainda sofremos com este tipo de epidemia de coisas básicas. Um dia é meningite, outro dia é dengue, e assim vai. Se for pegar a espinha dorsal, esta é a grande falha da política de saúde pública do estado da Bahia. Investe-se pouco na prevenção. É o papel do agente comunitário de saúde, do médico de família, do PSF, que tem a ver com educação. As duas políticas têm que se cruzar. A maior parte destes problemas que ocorrem nas comunidades carentes são por falta de higiene ou por falta de alimentação adequada e condições de vida digna. Se não tem mecanismos para melhorar as condições de vida das pessoas, para que tenham condições de habitação digna, tem que prevenir o avanço das doenças com este trabalho preventivo dos agentes comunitários de saúde, que é muito precário. A Bahia tem que aumentar, e isto gera trabalho, emprego para jovens sem muito mercado. É uma política de saúde atrasada, e, o pior de tudo: o maior ralo de corrupção no Brasil, infelizmente é a saúde. Para cada dez reais que circulam na saúde pública brasileira, perdem-se quatro reais para a corrupção. Esta é uma estatística que já vi várias vezes. Uma estimativa, pois ninguém tem esses dados oficiais, claro. Então tem que fechar o ralo da corrupção, e é um ralo que já vem de décadas. Criou-se uma matriz que gerou um sistema corrompido, onde o dinheiro do SUS, que é uma ideia maravilhosa, onde o dinheiro vem do governo federal, distribui-se para todos os municípios para que todos tenham acesso à saúde. E esta ideia é tão boa que o governo Obama tenta aprovar no Congresso deles algo parecido com o nosso SUS. Mas por que o SUS é só teoria? Por causa do ralo da corrupção.
 
Terra - Dentro do partido como estão as discussões sobre a importância da candidatura própria? Já que houve a resistência do ministro da Cultura, Juca Ferreira.
Bassuma
- Infelizmente tivemos período ruim para o Partido Verde, que é um partido pequeno, e que teve a resistência de setores que representavam 5% do PV, que foi liderado pelo ministro Juca Ferreira e que, por vários meses, de dezembro até março, ajudou a sangrar o partido. Porque era contra que o PV lançasse candidatura própria e, também as pessoas que o seguiam, queria que fosse uma sublegenda do PT. Ele foi vencido, mas mesmo assim usava de sua estrutura de ministro para poder impor sua vontade. E, para ele não ser expulso do PV, essa foi uma decisão do diretório nacional, ele pediu seu afastamento, isso foi no final de março, que foi aceito por unanimidade por toda o diretório nacional. Ele está afastado do partido e vai continuar lá ministro do governo Lula. Aí está a incoerência dele. Ele tinha que fazer como Marina, que era ministra do governo Lula e sai para disputar a presidência. Como ele é do PV, tinha que ser coerente e também se licenciar, se afastar do governo, para poder ajudar na construção da proposta do PV. Mas ele optou por este caminho, mas graças a Deus essa fase está superada, estamos juntando agora as energias do PV para divulgar as suas propostas e não mais para tentar trabalhar estas questões menores.
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Terra - Havia a possibilidade de aliança com o PPS. Isso ainda é levado em consideração? Como estão as alianças do PV na Bahia?
Bassuma
- Nós não estamos fazendo tanto esforço para ter aliança até porque a maioria dos partidos estão ou aliados ao PT ou ao PMDB, que atraíram a maioria dos partidos pequenos e médios. Nós não temos nada a oferecer, a não ser o nosso futuro, nossos ideais e utopias. Então não vamos nunca negociar uma aliança, até porque não temos o que oferecer. Não temos estrutura para nós, imagine para os outros. Mas nós temos projetos, propostas, temos o futuro. E o PPS continua nos interessando, sim. Para nós, ideologicamente, a aliança com o PPS é boa; na nossa opinião, boa para os dois. Há muitos quadros no PPS que têm uma tradição parecida com a do PV. O que aconteceu com eles? A nível nacional estão com o (José) Serra (pré-candidato do PSDB à presidência), e o (deputado federal por Pernambuco) Roberto Freire, que é o presidente nacional do PPS, já declarou publicamente, inclusive por ofício para a direção estadual do PPS, que não aceita, em qualquer lugar do Brasil, aliança que venha favorecer o palanque da Dilma (Roussef, pré-candidata do PT à presidência). O que isso quer dizer? Se não for para fortalecer o palanque do Serra, não pode ser o da Dilma. Eles aqui na Bahia, fizeram o caminho ao PMDB (o que implica apoio a Dilma) - dividido, porque não chegaram nem à metade nos membros de uma reunião sem quorum - e está sob análise do PPS nacional. Estamos abertos, claro, quando o PPS resolver esta questão interna.
 
Terra - Para o Senado já tem o nome do deputado Edson Duarte. E surgiu agora o nome do presidente do Olodum, João Jorge. Quando o partido define?
Bassuma
- A questão do Edson é muito mais anterior. Em outubro, novembro e dezembro, uma parte do PV, do qual faziam parte João Jorge e Beth Wagner (ex-presidente do Instituto do Meio Ambiente na Bahia), eles estavam junto com o Juca, se opondo à candidatura própria. No mês de março, quando isso foi vencido, apresentaram o nome para o Senado. Mas qual a avaliação que o PV nacional faz? É pela candidatura de apenas um senador em todos os estados para ter chance de eleger um senador. Vamos disputar a presidência e, na Bahia, o candidato a governador sou eu. Se nós colocássemos dois candidatos do PV ao Senado, dividiriam os votos e teríamos poucas pessoas para eleger senador. Quando oferecemos apenas um nome à sociedade, aqueles cidadãos que já está votando em Marina, que vota em Bassuma, a tendência natural é votar neste candidato ao Senado. Por isso estamos debatendo com os companheiros e explicando para eles que, na Bahia, o PV deve caminhar com apenas um candidato. E o nome fechado até agora é o do Edson Duarte.
 
Terra - Um dos motivos apresentados para sua saída do PT foi a apresentação de voto contrário à legalização do aborto. Como foi esse processo? E o PT tentou lhe colocar uma pecha de pessoa retrógrada, por conta das convicções religiosas. Como o senhor vê isso?
Bassuma
- Esse processo foi um desgaste, mas para mim foi uma honra. Ser punido com um ano de suspensão, por um partido como o PT, com toda uma tradição, um partido poderoso no Brasil, por defender a vida e ser contrário a legalização do aborto, foi uma honra. Eu ficaria triste e envergonhado se tivesse sido punido pelo partido por fazer uma coisa errada, algum desvio. Na verdade, minha crise com o PT vinha já desde 2005, quando houve aquela crise do mensalão. Eu fui uma das pessoas que publicamente externou a minha crítica àqueles do PT que cometeram este erro. Não podia negar, esconder debaixo da mesa aquele problema sério, que foi ruim. O PT tinha um projeto crítico, tinha que reconhecer que aquele erro não poderia mais ser repetido. De lá para cá, minha relação havia se desgastando muito. E este processo foi movido pelo PT agora. O que eu defendo? Isto o partido tinha que explicar para a sociedade. Primeiro não abro mão do direito de lutar pelo que acredito e estou disposto a pagar qualquer preço na vida para isto. Qualquer preço, mesmo a liberdade. Não posso ter medo de lutar pelo que acredito. No entanto, eu nunca quis que as pessoas no PT pensassem como eu, apenas que respeitassem. Eles optaram por este caminho, queriam calar minha voz, que eu não tivesse militância nesta questão.
 
Terra - Mas o que o senhor defende?
Bassuma
- Eu defendo políticas públicas, nos âmbitos federal, estadual e municipal de planejamento familiar. É uma burrice pensar que legalizando um crime, você vai resolver um problema. O aborto é um crime no Brasil. Além de matar a criança, o aborto traz sequelas à mulher. Não tem uma mulher que passe pelo aborto e que não sofra sequelas, nem que sejam psicológicas. O que eu defendo? Prevenir o aborto com políticas públicas de educação e de planejamento familiar para prevenir a gravidez indesejada. Foi sempre o que defendi e continuo defendendo. Infelizmente o PT tomou esse caminho e é por esta razão que tomei a decisão de sair e integrar o Partido Verde.
 
Terra - E qual o peso da candidatura de Marina Silva?
Bassuma
- Maravilhosa. Ela é a melhor coisa que aconteceu na política do Brasil nos últimos anos, porque ela é a grande novidade. Quem não conhece a história de Marina e vai conhecer e aqueles que conhecem vão se encantando, porque é uma história de verdade. Ali não tem nada falso. Ela já é uma referência internacional, e está preparada para esta missão de governar o Brasil. Não é como gerenciar um banco, não é como gerenciar uma indústria. Isso é cuidar da vida de quase 200 milhões de pessoas, melhorar a vida. Então ela está preparada para avançar no que já foi feito em outros governos, de Fernando Henrique e de Lula. Apesar do governo FHC ter cometido muitos erros, avançou na questão econômica. O Lula não mudou nada desta política. A política econômica do Lula é a mesma do Fernando Henrique. E o Lula avançou na parte social, indiscutivelmente. Mas está muito aquém. Quando a sociedade for conhecendo a Marina, ela só vai crescer, porque ela é verdadeira, tem virtude. E as pessoas querem um mundo que não seja mais agressor, que não seja discriminatório, não seja mais violento. A prioridade precisa ser a qualidade da vida das pessoas, não apenas o PIB e o indicador econômico. Ou seja, Marina não está preparada apenas para o debate e a campanha, mas também para governar um país tão complexo e importante para o Brasil.

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